O BLOG DA OPINIÃO BEM TEMPERADA

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Educação, "nota 1000"!!!

Outro dia, folheando a revista Veja, li uma reportagem bastante interessante que mostrava, com estatísticas, que as crianças de origem asiática, que vivem no Brasil, apresentam um desempenho escolar superior ao dos estudantes brasileiros. O texto explicava que, nas classes onde elas são maioria, o silêncio e a atenção são uma constante, ouve-se claramente a voz do professor explicando a matéria. Dizia também que essas crianças dedicam nove horas diárias ao estudo (cinco na escola e quatro em casa) enquanto que as nossas, apenas cinco (as da escola). Quando chegam em casa, essas crianças pegam seus cadernos, livros e estudam. Fazem os deveres de casa que o professor passa, lêem, treinam equações matemáticas etc. Enquanto os brasileirinhos, em sua maioria, vagueiam pelas ruas empinando pipa ou jogando bola. Com isso, os asiáticos do nosso país estão conseguindo os melhores postos de trabalho (que são justamente aqueles que exigem maior qualificação e preparo). Em empresas com ótima remuneração, assistência médico-hospitalar e condições de ascensão profissional.
Nas escolas públicas de São Paulo, as salas de aula são superlotadas, com até 45 alunos por classe. O professor tem que ensinar:

- o conteúdo das disciplinas (Matemática, Português História, Geografia, Ciências...). Mais cidadania, mais valores, mais educação sexual, mais higiene, mais saúde, mais ética, mais pluralidade cultural. Deverá também funcionar como psicólogo, assistente social, orientador educacional e orientador pedagógico, desempenhando também todos os deveres familiares que a sociedade resolver transferir para a escola.

Nossos alunos dizem que as aulas são chatas e alegam que não gostam de ler, que ler não é divertido, que jogar bola e empinar pipa é melhor, e, todos logo gritam em coro:

- Culpa dos professores que não dão uma aula divertida e atraente para as crianças! A Secretaria da Educação do Estado de São Paulo surge em cena alegando que o aluno que temos é assim mesmo e que os professores precisam aprender a ensinar. Rotula o magistério oficial como “professores nota zero”, que eles querem esconder é que temos em classe crianças (filhos de eleitores) que recebem o livro didático, cadernos e até mochilas, mas “esquecem” em casa para ficar brincando durante a aula. Crianças que não fazem lição de casa, não estudam e nem sequer prestam atenção às explicações do professor em classe.

Para agradar os pais eleitores, a Secretaria da Educação encaminha os professores para cursos de “capacitação”, alegando que eles não têm mais capacidade para ensinar.

Contratam firmas para dar esses cursos que segundo eles, tem o poder de transformar “profissionais despreparados” em professores criativos, prontos para dar uma aula eficaz, envolvente, estimulante e, ao mesmo tempo, divertida, capaz de fazer com que os alunos gostem mais da escola do que das partidas de futebol, mais de leitura do que dos jogos no computador....

É claro que esse discurso de responsabilizar o professor e varrer a sujeira pra baixo do tapete não vai levar a Educação a lugar nenhum. Mas serve perfeitamente para justificar, junto a opinião pública, os baixos salários pagos aos profissionais do estado que mais arrecada impostos no país.

Imagine que você está doente, vai ao médico e ele prescreve determinado remédio. Você não toma o medicamento, não faz a sua parte e culpa o médico por não melhorar...Assim acontece nas escolas públicas paulistas: o professor ensina e os alunos não prestam atenção, não estudam, não fazem os deveres de casa, como nossos amiguinhos asiáticos. Daí vem o governo e culpa o professor pelo mau desempenho dos “estudantes”. Para justificar mais uma vez a falta de reajustes e os baixos salários em SP o governo implantou um sistema de avaliação

Os professores recebem um bônus por produtividade, uma vez por ano,

-se os alunos estudarem

-se os alunos não faltarem;

-se os alunos não se evadirem;

-se os alunos...

E, como o aluno não quer saber de nada, estamos sem reajustes desde que o PSDB começou a governar (uns11 anos). Daí vemos o governador na TV dizendo que pagou seis mil reais de bônus aos professores. Só que se isso fosse averiguado direitinho, a verdade seria descoberta.

Para se ter uma idéia, tem escolas onde nenhum professor recebeu bonificação porque houve evasão, porque o aproveitamento dos alunos não se alterou. E assim por diante! Sem contar que, nesse sistema de bonificação por produtividade, os aposentados, por não terem mais alunos, são castigados e estão sem reajuste há anos (desde que o governo de SP passou a avaliar professores pelo desempenho dos alunos...). Ninguém quer sugerir aos eleitores a “receitinha” das crianças asiáticas (fazer a lição de casa, estudar ,empenhar-se,dedicar-se), enfim, fazer sua parte! A verdade é que o educador deixou de ser modelo para os jovens: ganham mal, vestem mal e ainda são alvo constante da crítica social. Hoje, modelo para os jovens, são os milionários jogadores de futebol, pagodeiros e outros mais que prefiro nem relacionar aqui.

Vamos combinar, não dá para falar em Educação de Qualidade enquanto o profissional da educação forsistematicamente desvalorizado, tratado pelo governo, pelas famílias e pela mídia em geral como um inimigo público, um vagabundo etc.Nessas condições, que aluno vai querer ouvir o que uma pessoa assim tem a dizer?

Postado por: Enrico Cardi

8 comentários:

  1. Nossa, faz tempo que não entro aqui para escrever ou ler nada... Tá foda a correria!
    Bem, educação é um assunto que me atrai, até porque serei um futuro professor. Porém, algumas coisas me incomodaram no seu texto, Rico, e perdoe-me por discordar em algumas questões. Para começar: o que seria uma nação? Para mim, um povo que está sobre a mesma lei, em um mesmo território, isso é, para mim, o brasileiro. Assim, os descendentes europeus e asiáticos são tão brasileiros quanto... Porém, se quisermos excluir os "descendentes"; quem serão os brasileiros? Um monte de negros, mestiços, mulatos etc que só vem se fudendo desde a escravidão? Que eram excluídos da idéia de "civilização-cristã”? Cuja aparição nos livros didáticos antigos se dá por meio da escravidão e da colaboração cultural: o samba, a capoeira; enquanto os descendentes europeus eram os responsáveis pelos grandes feitos... Que trabalham oito horas por dia e estudam mais quatro... (acho que não há muito tempo desta forma para estudarem em casa) Bem, se esses são os brasileiros devemos começar a fazer alguma coisa pelos brasileiros e não para os descendentes asiáticos. Que tal, cotas em escolas particulares, que tal bolsas de estudo para que não precisem trabalhar, etc. Só falar que a culpa é dos alunos é tentar se isentar da responsabilidade, mas a Veja é campeã nisso. É mais fácil continuar tomando "japoneses" (ou seriam brasileiros?) que muito provavelmente estudam em escolas particulares e que têm tempo e incentivo para estudarem em casa como exemplo e assumir um discurso étnico e determinista, ao invés de adentrar mais na realidade da escola pública e na história de vida desses alunos. Jogar a culpa nos alunos é não querer ver que a atitude dos alunos nas escolas é uma atitude de resistência, inconsciente reconheço, e que a educação que estão tentando empurrar goela abaixo para eles, não está dando certo. A prática escolar é uma relação de poder: Saber é poder, já diria Francis Bacon no século XVI. Porém, hoje, com a internet, embora nem todos ainda tenham acesso a isso, o saber está diluído, o que corrói a hegemonia histórica do monopólio do saber pelo professor. Hoje podemos procurar o conhecimento em qualquer lugar; a vida já está tão pedagogizada que a escola tornou-se redundante. Precisamos de uma escola nova, não essa que pretende “civilizar” os alunos e fazer com que eles ocupem os melhores cargos, nas melhores empresas. Por que não fazemos escolas que criem escritores, poetas, filósofos, artistas e que pretendam “humanizar” os alunos e fazer com que eles ocupem as melhores estantes e paredes das melhores bibliotecas e galerias? Bem, sei que o trabalho é árduo, mas ta aí a minha sugestão.

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  2. Bom Diorno galera, todos tem um pouco de razão, para mim tudo começa em casa, infelizmente a realidade de milhões desses brasileirinho é entristecedora alguns mal tem o que comer em casa, como se concentrar em uma aula de fato chata (eu sempre odiei escola), é bem mais fácil mesmo vc esquecer das dificuldades brincando tendo alguns momentos de descontração. Agora com relação ao grande desempenho dos asiáticos isso de fato é verdade porem tudo que Jaime disse é verdade de fato tem condições melhores para tal, mas não se pode negar que são diferenciados alguma coisa na descendência deles faz com que tenha algum diferencial, embora sejam todos brasileiros possuem algo de outra raça, mas não é nada que não possa ser compensado com um pouquinho de esforço por parte dos nossos brasileirinhos e isso (esforço) é uma coisa que é da nossa raça é coisa de brasileiro. Acho extremamente feliz aquela frase "Sou Brasileiro e não desisto nunca" é a mais pura verdade, pois já deveríamos ter desistido a muito e porque não desistimos? É simples porque para nós não existe essa possibilidade.

    Andiamo Brasil

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  3. Bom, sei lá, não gosto desse discurso de "raça"... Os descendentes japoneses são assim por causa de sua cultura e não por causa de sua raça... Não gosto dessa coisa determinista, que a "raça" diz o que seremos. Realmente não acredito nisso. O homem é o que é porque é construído social e culturalmente.

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  4. ja viram o video "professorinha com td enfiado" ?

    é o retrato da cultura brasileira ... BUNDA e banalização da sensualidade acaba com o interesse de uns pela escola (pq tem até alguns que gostam de estudar). O sonho americano é ficar rico trabalahando... o sonho brasileiro é ficar rico nas costas dos outros (Y) a educação brasileira esta precaria porque a cultura brasileira é precaria !!

    a ética deixou de ser uma herança.. agora os pais eempurram isso p escola.. os professores por sua vez para o estado e isso vai crecendo de tal forma que esta ai ( a maioria dos meus amiguiinhos da escola morreu td).

    Educação se faz com ciclos .. de pai p filho e nada a mais (Y)

    se a sociedade não capacitou um pai para isso e esse pai não se enquadrou com essa capacidade para que mais um filho ?

    Brasil um pais sem educação !!

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  5. Ensinar aos alunos como construir o pensamento é tudo. Excelente matéria.

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  6. Na Lei de Diretrizes e Base da Educação Brasileira nº 9394/96, no seu Artigo 29, afirma que a Educação Infantil é a primeira etapa da Educação Básica, que tem a finalidade de desenvolver a criança educanda até os 6 anos de idade. Desenvolvimento: tanto físico, psicológico, intelectual e social.Esse desenvolvimento é feito através de acompanhamento e não tem o objetivo de promoção para o Ensino Fundamental, conforme o Artigo 31 da mesma lei. Há neste momento uma retirada de obrigação dos segmentos que compõem o inicio do processo de educação da criança, ou seja, o Estado é obrigado a garantir as creches e escolas, mas não é obrigado a cobrar da família ou do próprio sistema um acompanhamento didático e metodológico.
    A família tem direito ao acesso, mas não o faz, alegando vários motivos desde: da falta de uma escola próxima, trabalho dos pais o até mesmo que a criança não quer freqüentar a escola.
    A verdade é que a falta de uma proposta Curricular Nacional é também a demonstração de falta de coerência entre a lei e a realidade do Sistema Educacional Brasileiro.

    Respeito sua posição Jaime, mais acho que o papel do Estado é ser o tutor de suas crianças, ele o Estado tem que, garantir e cobrar que, as suas crianças freqüentem a escola. A família é uma instituição que, teve ter a proteção do Estado, e com isso, o dever com o Estado de garantir a ida e a permanência da criança educanda na escola.

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  7. Concordo que a família deve ser uma incentivadora à educação, mas acho só que o modelo de educação que o Estado está impondo está errado... Como mudar? Não sei, começo a fazer estágio esse semestre... Vamos ver a realidade e depois eu vejo o que é possível.
    Mas acho que o problema é as instituições: família, escola, estado, igreja... Estão todas indo por água abaixo em nossos dias. Já não são suficientes para segurar os "desejos" dos indivíduos... Temos um problema nisso.

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