
A política transformou-se num espetáculo. A discussão das idéias e dos planos de governo sucumbiu às regras ditadas pela produção de um show. Temas relevantes para o futuro da sociedade primam pela ausência. Não se discute, por exemplo, um projeto sério para a segurança pública, não obstante, a surpreendente desenvoltura das facções criminosas. Assistimos, todos, ao jogo do marketing político. Enquanto isso, a violência avança com o seu principal estopim: o mercado das drogas.
No mercado da cocaína, o Brasil exerce triste liderança. O País é hoje o maior espaço consumidor da droga na América do Sul e provavelmente o segundo maior nas Américas. Ademais, somos, hoje, um importante corredor de distribuição mundial. As conseqüências dessa assustadora escalada podem ser comprovadas nos boletins de ocorrência de qualquer delegacia de polícia. De fato, o tráfico e o consumo de drogas estão na raiz dos roubos, das rebeliões e da imensa maioria dos homicídios.
Observa-se, curiosamente, um crescente movimento a favor da descriminalização das drogas, sobretudo da maconha. Bandeira freqüentemente agitada em alguns setores da mídia e em redutos de profissionais da saúde, a descriminalização não resolverá nada. Ao contrário. Como afirmou o respeitado psiquiatra Ronaldo Laranjeira, professor do Departamento de Psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), “os artigos recentes mostram de uma forma inquestionável que o consumo de maconha aumenta em muito o risco dos jovens desenvolverem doenças mentais. Do meu ponto de vista, essa geração que consome maiores quantidades de maconha do que a geração anterior pagará um alto preço em termo de aumento de quadros psiquiátricos”, diz o especialista.
A verdade precisa ser dita. Não se pode sucumbir à síndrome da avestruz quando o que está em jogo é a vida das pessoas. O mercado das drogas está dizimando a juventude. Seu poder corruptor anula, estratégias repressivas. A prevenção e a recuperação são as únicas armas eficazes a médio e longo prazo, reclamam um apoio mais efetivo do governo e da iniciativa privada às instituições sérias e aos grupos de auto-ajuda que lutam pela reabilitação de dependentes.
Vejamos, algumas comunidades terapêuticas, sem uso de medicamentos e investindo num conjunto de providências que vão às causas profundas da dependência, essas comunidades têm obtido bons índices de recuperação. Por conseguinte, algumas com gravíssimas dificuldades financeiras e sem qualquer apoio dos governos, embora não faltem falsas promessas de ajuda de políticos oportunistas, a entidade tem sido responsável pela recuperação de inúmeros dependentes químicos. Merece um registro. Os governos não se dão conta de que o trabalho dessas instituições repercute diretamente na qualidade da segurança pública. Elas rompem o círculo vicioso das drogas e criam o círculo virtuoso da recuperação.
Debates no Congresso Nacional sugerem que as comunidades terapêuticas, bem como as demais instituições idôneas que trabalham na recuperação de adictos, possam, num futuro próximo, receber recursos provenientes do Fundo Nacional Antidrogas e do Sistema Único de Saúde (SUS). Seria uma providência inteligente.
O governo do presidente Lula, no entanto, um aplauso pela qualidade e seriedade da sua estratégia antidrogas. Mas o corolário dessa política deve ser um decidido apoio às entidades idôneas que batalham pela recuperação dos dependentes. Afinal, um adicto recuperado é o melhor aliado na luta contra as drogas.
Por: Enrico Cardi, Estudante de Direito da Universidade Braz Cubas