O BLOG DA OPINIÃO BEM TEMPERADA

sábado, 28 de novembro de 2009

Quando eu atiro



Quando eu atiro, eu não mato só aquele que me ameaça, me mato também.

Perco a consciência e destruo meu caráter, mesmo com toda a justificativa, perco a razão que é o único elemento capaz de manter a lucidez ilesa.

Quando eu afirmo que matei senão morreria, tirei o direito de viver assim como o meu, já que estou vivo.

Tem gente que não se importa com a vida, pois infelizmente não teve quem pudesse lhe ensinar esse valor.

Tem gente que tira vidas comumente, pois infelizmente lhe fora ensinado esse valor.

Tem gente que ta presa pra pagar por seu crime, mas na pratica é apenas mais um escravo, serve ao bandido mais forte ou a organização, pois não tem dignidade já que isso lhe fora arrancado quando saiu do ventre há muito tempo.

E esse escravo é um humano, que infelizmente muitos não gostariam que assim fosse, daí a revolta, ele é exatamente igual a você!

Calma, não se irrite, não estou dizendo que você é um monstro, mas ele também não é, mesmo que pareça muito viu!

Ele é fruto do que a faceta mais destrutiva da maldade pode fazer com alguém como você se mantido em uma realidade alienadora e aprisionadora que o impede de ter acesso a uma vida igual a sua, a nossa.

Ele é um humano sem caráter moral, pois comeu desde bebezinho maldade no café da manhã, mentira no almoço e ódio no jantar!

Entre outras palavras, ele ta acostumado! Foi a educação que ele recebeu! É isso que ele é! Essa foi a sua escola!

Este é o monstro, uma referencia popularmente dada àqueles que cometem barbáries, até concordo com o monstro, pois a finalidade causada, a conseqüência para chamá-lo assim sempre é a pior possível.

Sempre é assim, porém esse monstro foi você quem criou, foi a sociedade que criou, mesmo inconscientemente, pois você o ignorava enquanto ele nascia, crescia e agia.

Ele vive aonde você não vai, ele come o que você nunca comeria, ou o que você joga fora.

Ele dorme onde ninguém consegue dormir, pois o que ele chama de noite de sono você chama de estafa, estresse, barulho. Loucura ou tortura.

Ele deseja ter o que você tem, e quando jovem já aprende que tem duas opções: Ou vira um otário escravo ganhando uma merreca e vivendo com muitas privações ou cai no crime para conseguir desfrutar do bom e do melhor, sendo influente e respeitado.

A conseqüência do crime é punição, a resposta do sistema, então ele é procurado para pagar por suas transgressões, vira um escravo dessa vida, e aos poucos aprende que matar, morrer, estourar, arrebentar, correr, fugir, viver na atenção, furtivo e camuflado é a única maneira de sobreviver, já que aprendeu desde bebê que não teria nada a perder.

Ele poderia ser o seu filho, vivendo a margem da sociedade, onde ninguém vai passear, lá na favela, onde com certeza há pai, mãe e professor, numa filosofia de vida ignorada pela sociedade, mas que educa, alimenta, mantém e forma, mesmo na maldade, mesmo da sua forma brutal e nefasta.

Se você acha que eu estou defendendo bandidos, assassinos e afins fazer o que? Paciência! Não estou aqui para lavar a cabeça de ninguém, muito menos fazê-los acreditarem nesta ideologia.

Mas se acha que estou falando ao menos um pouquinho de verdade, pense.

Você e eu não sabemos precisar a dor que dilacerou o resquício de caráter desse sujeito sofredor que hoje é o monstro que você quer matar com a pena de morte, ou que dá graças a deus que morra na superlotação, na troca de tiros ou na rebelião, pois bandido bom é bandido morto não é?

Recuperar, isso é para poucos que conseguem manter ao menos um lampejo de consciência dentro de si mesmo e muito auxiliado por pessoas interessadas e praticantes da bondade e do bom caratismo conseguem reaprender a viver, você entendeu? REAPRENDER, pois ele não conheceu o que você e eu conhecemos e nem viveu o que você e eu vivemos.

Vamos matar então, aquele estuprador da sua filha, ou ladrão da sua loja, ou assassino do seu filho, vamos, vamos matar e morrer também, Vamos virar monstros também.

Aliás, vamos morrer todos, afinal somos todos humanos e morreremos e iremos para a mesma vala comum, seja numa jazida no Morumbi ou lá no rio, o fim é sempre o mesmo não é?

Será? Será mesmo?

Não sei gente, mas sinto que se eu puder continuar vivendo eu também poderei continuar lutando e sonhando por dias melhores, quem sabe não me para na mão a chance de mudar a vida de alguém que de repente lá na frente seria meu algoz, meu assassino, ou o ladrão das minhas coisas, quem sabe ajudando, caminhando juntos, procurando apenas notá-lo e talvez cumprimentá-lo em respeito a sua existência.

Mas ainda sim sei lá!

Será que ta nas minhas mãos dar cabo do assunto ou é babaquice o que eu to falando?

Será muita benevolência tentar entender o monstro, ou melhor, seria mesmo estourar os seus miolos?

Será que to defendendo demais a quem não merece ou to sendo correto em afirmar o valor da vida humana?

Sobretudo do direito de tirar a vida ser divino ou pode estar ao nosso alcance?

Será que eu preciso mesmo matar, vingar, revoltar, brigar ou entender, compreender, aceitar, praticar a mudança, para exemplificar com minha luta atitudes corretas, no sentido de ensinar alguém também?

Desculpem-me as fortes palavras e até mesmo tocar no assunto, mas ignorar isso não dá mais, pois se você fala mal do sistema, se você cobra do governo, se você reclama da ordem das coisas, reinvente, lute e auxilie o seu amigo, o seu irmão na criação de uma nova realidade, faça a sua parte já que você esta no todo.

Isso não vai acontecer através de um exército de demagogos, mas de voluntários para um sistema mais justo, acolhedor, na busca do equilíbrio entre os iguais.

A nova chance de um novo despertar esta em nós. O sol é a prova.

Lembrem-se das crianças!


Por: Leonardo Cardi

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