O BLOG DA OPINIÃO BEM TEMPERADA

domingo, 2 de agosto de 2009

O sonho da Vida

“¿Qué es la vida? Un frenesí.
¿Qué es la vida? Una ficción,
una sombra, una ilusión,
y el mayor bien es pequeño;
que toda la vida es sueño,
y los sueños, sueños son”.
La vida es sueño – Calderón de La Barca



Há uma tradição no Ocidente, que vem pelo menos desde Platão, que propõe que a vida seja um sonho, apenas um mundo de aparências. Na literatura, grandes obras como “Sonho de uma noite de Verão”, de Shakespeare, “A vida é sonho”, de Calderón (epígrafe deste texto); os “Alices” do Carroll; relatam-nos situações cujas personagens não sabem ao certo o que é sonho e o que é realidade.
No Oriente talvez essa idéia seja ainda mais antiga. No hinduísmo o conceito de “maya”, que quer dizer ilusão, aparência, é muito importante neste sistema religioso, pois reforça a idéia de que tudo é passageiro e não adianta ficar presos a bens terrenos.
Esse tema volta a ter muita força no Ocidente no século XVII, depois que as utopias humanistas desabaram. Muitos escritores do século XVII, alguns inclusive vinculados a Igreja, sustentavam as metáforas de que a vida é um sonho ou, outra muito famosa, de que o mundo é um palco, um teatro, pois desejavam mostrar o caráter aparencial de nossa existência. Segismundo, personagem de “A vida é sonho”, sempre após acordar em uma situação diferente, passa a desconfiar o que é realidade e o que é a vida sonhada. Em relação ao teatro-mundo a metáfora diz respeito a estarmos apenas representando papéis temporários nesta existência. Bem, se a vida é um sonho e somos apenas atores, onde seria a vida real? Para estes escritores a realidade seria apresentada a nós após a morte, ou seja, no caso dos homens seiscentistas, em Deus.
Com advento do Iluminismo e da modernidade, muitos intelectuais passaram a acreditar que conseguiríamos criar um mundo perfeito, bastava fazer alguns ajustes nos seres humanos. Todos os “ismos” (liberalismo, comunismo, capitalismo, nacionalismo, positivismo, etc.) seriam projetos para a construção deste novo mundo. A razão, a ciência, etc. libertariam os homens de todas as crendices e todas as amarras que impediam a construção do mundo perfeito.
A partir do início do século XX, no entanto, esse ideal começou a ser corroído: duas grandes guerras, grandes fomes e desgraças por todo mundo por causa do Crash de 1929; a ciência que presenteou o mundo com Auschwitz, a bomba atômica, a bomba de Hidrogênio; com a capacidade de destruir o planeta em seis vezes. Em algum ponto dessa história os projetos modernos foram por água abaixo.
O século XX marca aos poucos o reinício do tema sobre os questionamentos da realidade da vida. “Admirável Mundo Novo” e “1984”, de certa forma, mostram a idéia de que a realidade pode ser controlada e que aquilo que você acha que é verdade pode ser uma mentira.
Em nossa época esse tema parece ganhar ainda mais força. É só observar alguns filmes que andam por aí: Matrix, Vanilla Sky, Sonhando Acordado, etc. Como diz Chico Buarque em uma música chamada “Televisão”: “E a própria vida; ainda vai sentar sentida; vendo a vida mais vivida; que vem lá da televisão”.
Os dois últimos posts, acho eu, dialogam muito com isso, na verdade foi por causa deles que resolvi escrever isto. Muitas pessoas acham que a TV é a detentora de toda realidade e não que é apenas um simulacro da “vida real”. Porém, isso levanta outro tema: será que o que achamos que é a realidade, é de fato?
Uma das técnicas usadas por aqueles escritores do século XVII é uma tríade de metáforas, ou uma sobreposição de imagens que levavam a audiência a pensar em sua própria vida. Eram muito comuns representações teatrais dentro das próprias peças, ou sonhos dentro de sonhos. Como em “Hamlet”, quando o protagonista desenvolve um teatro com a mesma história da morte de seu pai, ou como em “Sonho de uma noite de Verão”, quando Puck, ao final da peça, fala: “Se nós, sombras, vos ofendemos; pensai somente nisto e tudo estará resolvido: Ficastes aqui dormindo; enquanto apareciam estas visões. E este fraco e humilde tema; que nada mais contém do que um sonho”. A idéia principal é mostrar que a nossa própria vida pode ser apenas uma representação. Se os atores encenam uma peça dentro da própria peça, pode ser que nossa existência seja apenas um teatro ou um sonho dentro de algo maior. Muitos filmes no início do século XXI voltaram a tratar dessa temática. Aqui cabe novamente a pergunta de Segismundo, epígrafe deste texto: O que é a vida? Um Frenesi, uma ilusão, uma sombra, uma ficção? Bem, se a vida é sonho, o que nos espera quando acordarmos? O que nos espera após a Matrix? O que vamos escolher: a pílula vermelha ou a azul?
Por: J.J

6 comentários:

  1. faço questão de abrir esta discussão, pois eu mesmo já me flagrei fazendo esse tipo de questionamentos de uma forma diferente mas ja fiz. Eu tenho a seguinte impressão a de que nos fazemos parte de um sistema e que não somo o topo da cadeia acho que existe algo bem maior por trás de tudo. As vezes faço comparações ridículas mas que fazer algum sentido é só analisar.Por exemplo analisando as formigas como um tipo de sociedade e imaginando que elas tenham conciencia como nós humanos, estamos acima delas certo ? imagino que sejamos algo como um formigueiro em escalas astronomicas. Não sei se fui claro mas acho que da para entender alguma coisa.

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  2. Há uma frase no livro "Harry Potter e a pedra filosofal" que diz mais ou menos assim,
    "Os bruxos mais evoluídos não temem a morte pois crêem que ela é apenas o inicio de uma nova aventura"
    Questionar a vida é questionar a morte. Somos tão evoluímos assim?
    Acredito que isso vem muito forte de religião e cultura.
    Acho difícil querer explicar o que é a vida. Se é real ou um surreal momento de experiências e aprendizados que vamos levar para...Para onde????
    Quando começamos a nos questionar sobre o que fazemos, oque vivemos,quanto mais cavar, mas fundo vai ficar.
    Já vivi uma situação em minha vida em que preferia dizer que aquele momento era vivido numa outra dimensão e que quando voltava pra casa ao terminar do dia, voltava a vida real. Hoje me lembro disso como se não tivesse vivido, foi algo que valeu muito a pena, mas que não repetiria.Será que realmente vivi? Será que não foi um sonho, uma fantasia reprimida qual teria o desejo de viver?
    Questionar a vida e suas peculiaridades, é questionar seus motivos, objetivos, fundamentos, princípios e por fim, sua finalidade literalmente falando.
    Preciso de uma base forte para poder escolher entre as duas cores. A religião com toda a certeza me daria a estrutura necessária!

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  3. “Aos sábios restam à ignorância do não saber, saber estar certo ou errado diante do desconhecido”.

    “Somos todos iguais pais e mães filhos e netos, você é o que seus avós já foram e o que seus netos vão ser...
    Uma arvore antes de dar fruto passa por um ciclo:
    Antes do Fruto vem a flor.
    Antes da flor a arvore
    Antes da arvore a semente
    Antes da semente o fruto.
    Antes do fruto vem à flor e assim segue o ciclo”.
    Estes são fragmentos de dois de meus textos, uma idéia ilusória onde o desconhecido já passou. Nada que vem é novo tudo já passou se é de descoberta já estava ali faltava apenas o notar. Para uns a vida passa diante de seus olhos todos os dias, este tem o direito de escolher seu destino, para outros a vida segue e uma ordem suprema que conduz o seu destino. Esta é a grande vereda da vida. Um caminho estreito, pois sabendo ou não seu caminho será obrigado a passar por ele sendo estreito ou não.
    “ senti como se estivesse vivendo tudo outra vez, minhas atitudes eram de certa forma esperada, nunca tinha visto aquelas pessoas mas saberia sim qual a reação delas. Parece confuso mas a musica que toca já tinha ouvido. A sala fria e cinzenta, já estive ali.”
    Confuso, pois quem nunca sentiu isso, aquela impressão maluca de estar vendo tudo outra vez.

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  4. caro colega vc esta falando do famoso e conhecido Djavú.

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  5. Famoso mesmo...
    tem até um filme com esse nome...
    Bom o filme hein...mto bom!

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  6. Segundo a lei de Wesley S. Abreu, caracteriza-se Déjà vu algo que ocorre seguindo as três leis por ele criada. Sendo assim.

    Um Déjà vu é algo que está acontecendo no exato momento da sua ação (por isso o sentimento de "já ter visto isso antes").
    Um Déjà vu nunca se repete igual a outro que você já teve. Um sonho se repete, um Déjà vu não - até porque isso influenciaria na lei acima. Sendo que uma ação nunca se repete, nunca alguém vai, por exemplo, dirigir um carro no mesmo dia com as mesmas pessoas na rua com aquele lixinho no canteiro, igual "naquele outro dia".
    Quando alguém tem um Déjà vu e sabe qual será a ação seguinte, isso já não é caracterizado um Déjà vu (apesar de hoje em dia erroneamente já caracterizar-se como um).
    A lei de Wesley não foi baseada nas de David Copperfield porém pode-se aplicá-la ao Déjà vécu do mesmo.

    eu não sei e nunca tinha ouvido falr disso

    mas ja estou pesquisando ^^

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